quarta-feira, setembro 12, 2007

A SOCIEDADE DO ESPETÁCULO e seus 40 anos

Sim, é inegável a importância e a atualidade desse texto publicado pela primeira vez em 1967, o que nos deixa com a obrigação de comentar seu aniversário. Também é inegável a sua importância para as formulações que preparam o maio de 1968 francês (em 2008 também se comemora 40 anos desse momento político) que influencia, influenciou e continuará influenciando grupos e movimentos sociais populares os mais diversos: como inspiração e como luta prática.

O livro, escrito por Guy Debord (1931-1994), por vezes é considerado o mais importante do século XX no contexto das lutas totais contra o Estado e contra o Mercado. Sua base está nas relações entre a luta de classe e a alienação que geram um estágio elevado do capitalismo conhecido como “sociedade do espetáculo”, referência à ligação tecida pelo autor entre imagem e mercadoria.

A escassez de estudos acadêmicos sobre o autor – pelo menos ainda – revela o interesse maior por seus escritos por parte daqueles que realizam uma crítica às ideologias de toda estirpe. Para Debord, todas ideologias se aproximam, e as mais distantes são as mais próximas irmãs.

O livro revela essas idéias nos capítulos: I) A separação consumada; II) A mercadoria como espetáculo; III) Unidade e divisão na aparência; IV) O proletariado como sujeito e como representação; V) Tempo e História; VI) O tempo espetacular; VII) A ordenação do território; VIII) A negação e o consumo na cultura; IX) A ideologia materializada.

Nesse contexto de comemoração dos seus 40 anos é uma obrigação citar algumas edições em português. Nessa língua nós temos três a comentar. A primeira que se tem notícia é a edição portuguesa, revisada pelo próprio Guy Debord, e lançada em 1972. A primeira edição brasileira é lançada em 1997, mas gostaria de me ater na segunda edição que teve a tradução finalizada em 2002 e lançada em abril de 2003 pelo Coletivo Acrático Proposta (CAP).

Essa edição se propõe restaurar – como o disse João Emiliano Aquino em suas “Anotações sobre a Sociedade do Espetáculo” que a abre – a proposta de discussão prática do texto de Debord, e não meramente servir como mais um produto-livro no mercado capitalista. Para isso ela foi considerada uma “edição pirata”, pois leva o texto para a periferia do discurso, alcançando o uso das teses de modo pleno e não meramente parcial.

A edição se propunha fotocopiável em qualquer esquina. A proposta feita aos leitores, coletivos, etc., era “retirar os grampos e tirar cópias”. Para isso, o máximo do papel foi aproveitado, desrespeitando os padrões de editoração, reduzindo o custo da cópia do livro.

Desse modo, resgata-se uma característica de difícil assimilação pela academia, pois a mesma não vê com bons olhos a inclinação do texto de Debord para a teoria prática. Essa inclinação revela a necessidade que o livro tem de ser um pretexto à crítica e reflexão cotidiana. Deve ser atualizado com base nos locais em que as pessoas – decididas em destruir as relações mediadas por imagens – o utilizam.

Algumas áreas, como a comunicação, por exemplo, absorveram parcialmente algumas idéias do livro e sua crítica à mídia, contrariando a proposta e integridade da própria crítica. Hoje, apenas pode ser citado um autor que conseguiu extrair de Guy Debord a íntegra de suas teses (até onde é possível realizar tal resgate dentro de um meio acadêmico). A tese de 2005 intitula-se Reificação e linguagem em André Breton e Guy Debord, de João Emiliano Fortaleza de Aquino. Em 2006 essa tese gerou um livro, Reificação e linguagem em Guy Debord, que torna público parte desse trabalho.

Na França, Debord teve recentemente sua obra completa publicada. Na internet pode ser encontrado muito material do autor, assim como sobre ele. Muitos dos textos estão em francês, mas em português também podem ser encontrados os textos fundamentais de seu pensamento que nunca foi separado da ação.

Por esse e outros motivos A Sociedade do Espetáculo não apenas merece ser lido, como também deve ser discutido e visto (pois o livro tem sua versão para Cinema do Guy Debord cineasta).

Ressalto que não usei parte alguma do texto debordiano para que vocês possam conhecê-lo na íntegra em suas versões disponíveis, vejam nos sites abaixo e, para qualquer outra conversa sobre, assim como se quiserem conhecer a edição pirata, entrem em contato comigo.


http://www.geocities.com/jneves_2000/debord.htm

http://www.geocities.com/projetoperiferia4/se.htm

http://www.geocities.com/projetoperiferia4/sefilme.htm

http://www.cisc.org.br/portal/biblioteca/comentariosociespetaculo.pdf

http://www.rizoma.net/interna.php?id=133&secao=potlatch

http://www2.cddc.vt.edu/mirrors/SI/debord.films/index.htm

http://www.aldeianago.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=11&Itemid=76

http://www.geocities.com/projetoperiferia4/introbra.htm