Preso entre poeira e montanhas (quase as últimas de Minas Gerais) nasce oficialmente o poeta Josué Borges de Araújo Godinho em Presidente Olegário, cidade distante 428Km de Belo Horizonte. Nesse local também aporta o Cometa Itabirano/Belorizontino no dia 08 de Julho de 2006. Esta matéria é necessária na medida em que na anterior tratamos do “desaparecimento” dos jovens poetas de Minas Gerais nas Zonas de Invenção Poesia &, de Belo Horizonte.
Propomos, assim, ler um pouco a dinâmica das coisas que se dizem poéticas à luz do dia-a-dia e vice-versa. As pessoas já acham estranho a proposta do “fim da poesia” quando explicada minuciosamente, enquanto um novo começo. O melhor método encontrado acaba sendo fazer o contrário: abordar o “fim da poesia” com a introdução do dia-a-dia em seu meio e, assim, caracterizar o seu “dissolvimento” ao se assemelhar à um cotidiano antes, aparentemente, órfão dela. Ao final, qualquer clichê poético torna-se cotidiano. E, no mínimo, qualquer cotidiano é um clichê poético.
A viagem para Presidente Olegário, ou P.O. para os íntimos moradores, é longa. Dura uma noite de quem parte da Belo Horizonte. Chega-se em Patos de Minas e ruma-se para PO. Cidade pequena localizada em um plano sobre uma montanha. Também com seus montinhos é simpática, acolhedora, poética. Para uns que ficam pode ser uma prisão. Lugar onde todos sabem e dão notícias de todos como as curtas cidades mineiras são. As imagens (fotos, descrições, etc.) do lugar apontam uma vontade para o crescimento.
Uma vez que a visita à cidade tinha como motivo o lançamento do primeiro livro do poeta, imaginou-se como isso seria possível dentro de uma “Festa da Produção” local. A imagem se construía com animais sendo submetidos em rodeios estúpidos, calças “tora-bago”, “maria-pretêras” e tudo o mais que os enfeitam. Como é possível acontecer um lançamento de poesia ali? E aconteceu. O dia do lançamento foi um dia de festa no cotidiano daquelas pessoas. Com todo tipo de pessoas, aquele cotidiano se extravasou com os poemas de Josué e o seu movimento poético. O dia-a-dia no poema. A sua poesia retirada do dia-a-dia. A poesia se dissolve e foi dissolvida.
Não especificamente arquitetado, o poeta contemporâneo revela seu texto e seu conteúdo em um jorro de explícito desejo de vida e não de se separar dela. Ele está nela. Seus poemas em outras línguas dissolvem a vontade de se aproximar das várias realidades lingüísticas e não de separá-las dos leitores de um português apenas. O poeta contemporâneo é também um “poeta interior” que se diz em seu poema mais do que no dia-a-dia se diz. É ali, no cotidiano e no poema, que ele se vende mais. O poeta quer se libertar, mas está ali, está preso. Sua poesia pode demonstrar isso claramente.
Nesse exemplo, podemos extrair que o poeta dito “da capital” deve aproveitar melhor o espaço e não apenas se lançar nele com um livro, sua proposta. O poeta de uma Belo Horizonte miúda, onde todos se conhecem, deve se conhecer e conhecer aos outros poetas, assim como o faz aquele do interior que se volta ávido por uma BH de poesia fragmentada.
O poeta de Belo Horizonte deve dizer aos outros o seu dia. Ser o dia. Essa é a pré-lição natural de Josué. Esse é o primeiro modelo do fim de uma poesia separada do dia. Simplicidade replicada do dia. O “poeta interior” manifesta os clichês junto às rimas pobres e seus enfeites possíveis. Artifícios corroboram a necessidade da forma ou a falta dela no poema. A dedicatória constante é sinal de um link entre a poesia e o mundo do poeta. O livro lançado, repleto de poemas com esses traços, é reflexo da festa que ali acontecia. Fotografou-se a fotografia. A responsabilidade do poeta contemporâneo cresceu, fica maior a cada segundo. Ele segura a arma com a qual está se matando. Ele a lê e não mais a decora. Ele a vive e não mais a provoca. Ele não esnoba com a poesia. Ela é esnobe. A poesia deve ser realmente de todos e todas.
Tudo isso para dizer que os poetas de Belo Horizonte devem se ver. Também devem ver o seu interior. Ver o interior de Minas e seus poetas talvez mais do que o inverso como vem acontecendo. Isso é dito, pois os do interior conseguem ver mais o dia e a noite em sua poesia do que o contrário.
Pelo que se lê atualmente nas preocupações dos poetas com as formas visuais do poema, com o lúdico-poético, e com a poesia acima do poema, pode-se dizer que o peso da poesia que se pratica hoje, no interior e nas capitais, está na capacidade de se tecer provocações em sua sintaxe carregada de conectivos. Pensa-se nesses enquanto gramaticais ou fazendo esse papel.
A partir desses valores contemporâneos, pode-se dizer que Josué ilustra essa poesia muito bem.
Propomos, assim, ler um pouco a dinâmica das coisas que se dizem poéticas à luz do dia-a-dia e vice-versa. As pessoas já acham estranho a proposta do “fim da poesia” quando explicada minuciosamente, enquanto um novo começo. O melhor método encontrado acaba sendo fazer o contrário: abordar o “fim da poesia” com a introdução do dia-a-dia em seu meio e, assim, caracterizar o seu “dissolvimento” ao se assemelhar à um cotidiano antes, aparentemente, órfão dela. Ao final, qualquer clichê poético torna-se cotidiano. E, no mínimo, qualquer cotidiano é um clichê poético.
A viagem para Presidente Olegário, ou P.O. para os íntimos moradores, é longa. Dura uma noite de quem parte da Belo Horizonte. Chega-se em Patos de Minas e ruma-se para PO. Cidade pequena localizada em um plano sobre uma montanha. Também com seus montinhos é simpática, acolhedora, poética. Para uns que ficam pode ser uma prisão. Lugar onde todos sabem e dão notícias de todos como as curtas cidades mineiras são. As imagens (fotos, descrições, etc.) do lugar apontam uma vontade para o crescimento.
Uma vez que a visita à cidade tinha como motivo o lançamento do primeiro livro do poeta, imaginou-se como isso seria possível dentro de uma “Festa da Produção” local. A imagem se construía com animais sendo submetidos em rodeios estúpidos, calças “tora-bago”, “maria-pretêras” e tudo o mais que os enfeitam. Como é possível acontecer um lançamento de poesia ali? E aconteceu. O dia do lançamento foi um dia de festa no cotidiano daquelas pessoas. Com todo tipo de pessoas, aquele cotidiano se extravasou com os poemas de Josué e o seu movimento poético. O dia-a-dia no poema. A sua poesia retirada do dia-a-dia. A poesia se dissolve e foi dissolvida.
Não especificamente arquitetado, o poeta contemporâneo revela seu texto e seu conteúdo em um jorro de explícito desejo de vida e não de se separar dela. Ele está nela. Seus poemas em outras línguas dissolvem a vontade de se aproximar das várias realidades lingüísticas e não de separá-las dos leitores de um português apenas. O poeta contemporâneo é também um “poeta interior” que se diz em seu poema mais do que no dia-a-dia se diz. É ali, no cotidiano e no poema, que ele se vende mais. O poeta quer se libertar, mas está ali, está preso. Sua poesia pode demonstrar isso claramente.
Nesse exemplo, podemos extrair que o poeta dito “da capital” deve aproveitar melhor o espaço e não apenas se lançar nele com um livro, sua proposta. O poeta de uma Belo Horizonte miúda, onde todos se conhecem, deve se conhecer e conhecer aos outros poetas, assim como o faz aquele do interior que se volta ávido por uma BH de poesia fragmentada.
O poeta de Belo Horizonte deve dizer aos outros o seu dia. Ser o dia. Essa é a pré-lição natural de Josué. Esse é o primeiro modelo do fim de uma poesia separada do dia. Simplicidade replicada do dia. O “poeta interior” manifesta os clichês junto às rimas pobres e seus enfeites possíveis. Artifícios corroboram a necessidade da forma ou a falta dela no poema. A dedicatória constante é sinal de um link entre a poesia e o mundo do poeta. O livro lançado, repleto de poemas com esses traços, é reflexo da festa que ali acontecia. Fotografou-se a fotografia. A responsabilidade do poeta contemporâneo cresceu, fica maior a cada segundo. Ele segura a arma com a qual está se matando. Ele a lê e não mais a decora. Ele a vive e não mais a provoca. Ele não esnoba com a poesia. Ela é esnobe. A poesia deve ser realmente de todos e todas.
Tudo isso para dizer que os poetas de Belo Horizonte devem se ver. Também devem ver o seu interior. Ver o interior de Minas e seus poetas talvez mais do que o inverso como vem acontecendo. Isso é dito, pois os do interior conseguem ver mais o dia e a noite em sua poesia do que o contrário.
Pelo que se lê atualmente nas preocupações dos poetas com as formas visuais do poema, com o lúdico-poético, e com a poesia acima do poema, pode-se dizer que o peso da poesia que se pratica hoje, no interior e nas capitais, está na capacidade de se tecer provocações em sua sintaxe carregada de conectivos. Pensa-se nesses enquanto gramaticais ou fazendo esse papel.
A partir desses valores contemporâneos, pode-se dizer que Josué ilustra essa poesia muito bem.
-------------
*Publicado originalmente no Jornal O Cometa em Julho/2006
Nenhum comentário:
Postar um comentário